Sexta-Feira, 26 de Abril de 2024
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
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* Texto publicado na edição número 4 da revista Animal Business Brasil, distribuída durante a Rio + 20, em junho de 2012.
 
O aumento dos gases de efeito estufa e o consequente aquecimento global têm causado preocupações em escala global. Maior exportadora de carne bovina e detentora do maior rebanho comercial do mundo, a pecuária do Brasil tem sido cobrada a assumir compromissos de redução desses gases, e muitas vezes tem aparecido injustamente como a “vilã” das mudanças climáticas.
 
Para quantificar as emissões da pecuária brasileira de forma mais precisa, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, começou em 2011 um grande projeto de pesquisa com duração de quatro anos chamado Pecus, ou “pecuária sustentável”.
 
Com centenas de pesquisadores e diversos parceiros no Brasil e no exterior (universidades, institutos de pesquisa e agências de fomento à pesquisa e da iniciativa privada), a rede vem realizando pesquisas nos cinco biomas brasileiros (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa). Os levantamentos devem consumir cerca de R$ 20 milhões entre contribuições da Embrapa e captações externas.
 
O objetivo da rede é contribuir para a competitividade e a sustentabilidade da pecuária brasileira por meio de pesquisas que irão estimar a participação dos sistemas de produção agropecuários na dinâmica de gases de efeito estufa, visando subsidiar políticas públicas e negociações internacionais.
 
Será feito um balanço entre as emissões de GEEs (principalmente por meio do metano entérico dos bovinos) e o sequestro de carbono dos vários sistemas de produção.
 
Os resultados também contribuirão para que o Brasil atinja os compromissos voluntários de redução das emissões de GEE, refletindo os anseios da sociedade
brasileira. Na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas de Copenhague, em 2009, o Brasil firmou compromisso de reduzir a curva de crescimento das emissões desses gases em 33% até 2020, além de diminuir o desmatamento da Amazônia em 80%.
 
Já se sabe que a pecuária brasileira emite muito, mas existem lacunas no conhecimento da real contribuição para o aquecimento global. Apesar dos recentes avanços da pesquisa, ainda há uma grande demanda por dados nacionais que sejam
obtidos por métodos reconhecidos pela comunidade científica internacional. “Hoje as emissões de GEEs pela pecuária brasileira estão sendo avaliadas usando padrões internacionais. Finalizado o projeto, teremos informações dos sistemas produtivos
nacionais, indicando aqueles com maior potencial de mitigação de GEEs”, afirma a líder da rede Pecus Patrícia Perondi Anchão, pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste.
 
A pesquisa é extremamente relevante para o país, considerando que o agronegócio nacional responde por 22,74% do PIB brasileiro, de acordo com dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) de 2011.
 
A pesquisadora Patrícia afirma que a pecuária de fato contribui muito para as emissões de GEEs no Brasil. Porém, essa atividade tem se tornado cada vez mais eficiente do ponto de vista ambiental, especialmente quando se considera a remoção de GEEs realizada pelo sequestro de carbono.
 
Nos últimos anos, o salto na produção de carne foi obtido por meio do aumento da eficiência no manejo dos sistemas de produção, sem aumento nas áreas de pastagens, contribuindo assim para a redução do desmatamento. No entanto, a maioria das pastagens apresenta algum grau de degradação, constituindo um problema ambiental e contribuindo para emissões excessivas de GEEs.
 
“As informações que já temos indicam que é possível reduzir as emissões com a recuperação de pastagens, melhoria dos índices zootécnicos e adoção de sistemas integrados e de boas práticas agropecuárias, ou seja, por meio do sequestro de
carbono”, diz Patrícia.
 
As pesquisas da rede Pecus avaliam o balanço entre as emissões de GEEs e o sequestro de carbono dos vários sistemas de produção da pecuária. Neste aspecto, o Brasil possui uma vantagem ambiental pouco divulgada. Os solos brasileiros são
pobres em matéria orgânica. Por isso, um manejo adequado das pastagens, aliado à adubação, contribui significativamente para o sequestro de carbono no solo.
 
Segundo Patrícia, as pesquisas têm demonstrado que os sistemas integrados com floresta são os que mais contribuem nesse processo de remoção do gás carbônico da atmosfera para fixá-lo no solo e na madeira produzida. O que também ocorre com o plantio direto, devido à preservação da palhada do capim, com consequente aumento do teor de carbono e matéria orgânica no solo.
 
Essas técnicas já fazem parte das políticas governamentais para o setor, e para conhecermos sua real contribuição é preciso determinar o nível das emissões dos sistemas tradicionais e o potencial de mitigação (redução de emissões e remoção de GEEs da atmosfera) dos sistemas “melhorados”, em âmbito nacional.
 
Por exemplo, a rede Pecus integra as ações do Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), lançado pelo Ministério da Agricultura em 2010. O programa
incentiva a adoção de boas práticas agrícolas e a integração de sistemas produtivos que permitam a redução dos gases de efeito estufa e ajudem a preservar os recursos naturais.
 
Estima-se que a população mundial crescerá 34% até 2050. Isso pode significar um aumento de até 100% na demanda por carne. Já o Brasil tem aumentado consistentemente a produção de produtos de origem animal e atingiu a posição de relevância nas exportações de carne, condição que deve ser mantida nas próximas décadas.
 
Neste sentido, por meio de uma produção pecuária sustentável, o Brasil poderá atender plenamente esse mercado sem precisar utilizar mais áreas, liberando espaço para a produção de bioenergia e a conservação de florestas.
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