Quinta-Feira, 28 de Março de 2024
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
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Foto: Gisele Rosso

A emissão média anual de metano (CH4) por bovinos pode ser reduzida em até 35% com a adoção de estratégias de mitigação. A emissão média anual brasileira é de 57 kg de metano por animal. De acordo com o pesquisador Alexandre Berndt, da Embrapa Pecuária Sudeste (SP), com ações para aumentar a eficiência da produção pecuária e melhorar o desempenho dos bovinos é possível reduzi-la para 37,7 kg.

Pesquisas indicam que a pecuária contribui para a emissão de gases de efeito estufa (GEE), como metano e óxido nitroso (N2O). Conforme a pesquisadora Patrícia Perondi Anchão, da Embrapa Pecuária Sudeste, uma simulação de balanço entre as emissões e as remoções de gases de efeito estufa em um processo de recuperação de pastagem revelou que é possível a obtenção de saldo positivo de carbono. Alguns sistemas de produção, como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), e alterações na nutrição animal, como inclusão de aditivos na dieta bovina que melhoram a sua digestibilidade, são estratégias pesquisadas pela Embrapa e que têm potencial para diminuir as emissões da agropecuária. Isso ocorre porque os sistemas integrados retêm mais carbono e uma melhor digestão promove menores emissões de metano pelos animais.

No entanto, o problema é mais grave em áreas de pastagem degradada, porque nessas condições, o solo perde matéria orgânica e libera maior quantidade de gás carbônico (CO2) para a atmosfera.

De acordo com a pesquisadora, para manter o desenvolvimento do setor é necessário observar a dinâmica de gases de efeito estufa nos sistemas de forma holística. "Deve-se levar em consideração todos os compartimentos dos sistemas produtivos: solo, planta, animal e atmosfera, já que alguns componentes podem realizar a remoção dos GEE, reduzindo as emissões", esclarece. Segundo a pesquisadora, pastagens manejadas de forma adequada sequestram grandes quantidades de carbono e contribuem, ainda, para o aumento de matéria orgânica na área, melhorando a fertilidade do solo e a qualidade da pastagem.

O trabalho da pesquisadora constatou que a diferença líquida do balanço é positiva, com um saldo de 7,68 toneladas por hectare de CO2 sequestrado anualmente em pastagens recuperadas comparando-se à vegetação natural, garantindo o abatimento das emissões dos animais. (tabela abaixo)

Patrícia Anchão destaca que a falta de correção do solo, de fertilização de manutenção, de controle da erosão, associada ao manejo inadequado da planta forrageira, tem levado à degradação de milhões de hectares de pastagens. "A recuperação dessas áreas degradadas e a adoção de sistemas integrados, como lavoura-pecuária, silvipastoris e agrossilvipastoris, permitem aumentar a capacidade de suporte animal e evita a necessidade de se ocupar novas áreas para exploração com pastagens", ressalta.

Além de conter a pressão sobre a floresta, a consorciação de animais, de culturas agrícolas e de árvores permite a diversificação das propriedades pecuárias e o aumento da renda do produtor rural. Outro ponto que pode ser destacado é a disponibilidade dos produtos pecuários próximos aos centros consumidores, o que contribui para a redução da emissão de GEE, já que, com isso, diminuem as distâncias para a realização de transporte, que tem alto potencial de emissão de gases de efeito estufa, devido ao uso de combustíveis.

Alimentação mitigadora

Aumentar o desempenho animal também é uma estratégia que favorece a redução das emissões de GEE pelos bovinos. Segundo Berndt, a produção de metano depende da quantidade e qualidade do alimento ingerido, do tipo de animal, do grau de digestibilidade e das condições de criação.

O pesquisador ressalta que as principais ações para redução do metano estão relacionadas à melhoria dos índices zootécnicos de produção e de reprodução (redução da idade de abate, do intervalo entre partos, da idade a primeira cria), manejo nutricional, bem-estar animal e manejo dos bovinos e da pastagem. As estratégias incluem uso de aditivos, manejo intensivo de pastagem, uso de grãos e alimentos concentrados na dieta dos animais, processamento adequado das forragens conservadas de modo a aumentar sua digestibilidade, uso de leguminosas etc.

Emissões brasileiras

No Brasil, pelas Estimativas Anuais de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a agricultura e a pecuária foram responsáveis por 37% das emissões nacionais em 2012 e a mudança do uso da terra, por 15%. De 1990 a 2012 houve uma queda na porcentagem de participação da mudança do uso da terra no total de emissões, decorrente do controle do desmatamento ilegal, colocando os outros setores em evidência. Com isso, a agricultura e a produção de energia tornaram-se proporcionalmente os maiores emissores de GEE brasileiros, mesmo sem aumento significativo na emissão absoluta.

A pecuária tem grande potencial de mitigação das emissões. O sequestro de carbono que ocorre durante o crescimento de árvores no ILPF e na recuperação das áreas de pastagens degradadas, são exemplos. Além disso, tecnologias que promovam a melhora da eficiência dos sistemas de produção e o aumento do desempenho animal estão sendo implementadas no setor, mas ainda há espaço para avançar.

 Emissões de gases de efeito estufa no Brasil em CO2-eq. entre 1990 e 2012; Tg = milhões de toneladas (fonte: MCTI, 2014).

Congresso Mundial sobre ILPF

De 12 a 17 de julho, Brasília vai sediar o Congresso Mundial sobre Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta. Os maiores especialistas do mundo em intensificação sustentável se reunirão para apresentar trabalhos científicos e debater questões como aumento da produção mundial de alimentos, mudanças climáticas e sustentabilidade ambiental. Mais informações em:

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